Ciro tem razão?

Tiago Cordeiro
3 min readJun 11, 2021

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Do ponto de vista do marketing político, pré-candidato escolheu um caminho que pode lhe colocar no segundo turno

Desde 1989, nenhum pré-candidato conseguiu chegar ao segundo turno com menos de 10% de intenções de voto faltando um ano da eleição. Sérgio Moro, Luciano Huck e Ciro Gomes passeiam no limite deste número mas dos três só um parece agarrar com unhas e dentes o objetivo de chegar lá.

Desde sua saída do PSDB, Ciro tem se colocado como uma candidatura mais à esquerda, porém arrojada. Você pode achar que ele é de direita ou centro, mas é como o político cearense se coloca. Por isso, surpreende — e decepciona — muitos que o veem aderir ao antipetismo com gana próxima a um aluno de Olavo de Carvalho. Qual o objetivo?

Há dois tipos de candidatos em um momento pré-eleitoral: o que aceita disputar e o que quer vencer. O primeiro possui metas modestas e costuma dar trabalho para ser convencido enquanto o segundo tem metas ousadas e topa tudo que o faça chegar lá. Não é feio e nem errado, simplesmente é da política. O apresentador Luciano Huck parece ver com bons olhos disputar a eleição, mas a jornada na rede Globo é tão confortável, ficar em casa com os filhos… E assim se perde o timing e se desengaja uma militância.

Do outro lado, Ciro foi o principal prejudicado pela pré-candidatura de Lula. Em sua primeira disputa presidencial, seus eleitores gostavam de dizer que “petista moderno vota em Ciro”. O cearense era uma versão mais moderada, inteligente e arrojada do líder do PT para muitas pessoas. Uma espécie de Tony Blair brasileiro. Foi vítima de preconceito regional dúzias de vezes ao ser reduzido ao ofensivo apelido de “coronel”, como se político de família de políticos fosse exceção no Brasil de Aécio Neves e Rosana Sarney. Mas desidratou quando Luis Inácio Lula da Silva avisou que voltou para uma presidência disputar.

Só que Ciro é o candidato de meta ousada e que topa tudo. De um lado, a base que se forma ao redor de Lula é engajada e forte. O ex-presidente dificilmente perderá votos para outra candidatura à esquerda. Enquanto isso, a direita que derrubou uma presidente depois de perder uma eleição em 2014 e que aceitou Bolsonaro não tem uma liderança clara. Há um quinhão de eleitores antipetistas que anulariam voto, mas não votariam em ninguém de esquerda.

Ciro e seu marqueteiro João Santana fazem um cálculo eleitoral correto. A única chance de alguém chegar ao segundo turno não é impedindo Lula, mas o enfrentando. E a melhor forma é desidratando Bolsonaro. Quem vota ou já votou em Ciro tem boas chances de aceitar este discurso mais à direita e quem nunca votou pode se identificar com o discurso de abraço aos bolsonaristas arrependidos. Por que não? Afinal, ele não é do PT.

A política não é nova, velha, bonita ou feia… É simplesmente política. Ciro se aproveita de uma brecha que a direita lhe deu e responde às portas negadas pelo PT e seus eleitores. A questão é se passado esse ciclo eleitoral terá uma presidência para chamar de sua ou um caminho para criar um grupo que acredite em algo mais coerente do que simplesmente ganhar votos.

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