A classe artística que odeia política. E cobrança
O que Juliana Paes, Marcos Palmeira, Marcio Garciae outros artistas querem é o direito de não serem “nem Lula e nem Bolsonaro” sem explicarem como se posicionaram em 2018 e sem participar do debate. É o pensamento típico da classe média que “odeia política” e não quer ser criticada por isso. Algumas das pessoas que aplaudiram e se disseram do lado da atriz se manifestaram sem nenhum pudor em 2018 e não fizeram autocrítica — aquela que exigem do PT — porque acham que seus erros não são erros. São direito.
O direito de errar e nunca poder ser criticado por isto.
Juliana Paes diz que não aceita ser rotulada de um lado ou do outro, esquecendo que tem um lado no poder. E não é o antipetismo. É a antidemocracia, é o facismo e é o negacionismo. O jovem ator Ícaro Silva teve que intervir na bizarra série de comentários aplaudindo a atriz para lhe dizer o óbvio: “O Brasil não é uma bolha, é uma poça de lama”. E ela chafurdou nessa sujeira quando defendeu a Reforma da Previdência, se calou nas eleições de 2018 e por aí vai.
“Fui a primeira a pedir para as pessoas ficarem em casa”, diz Juliana. Será que ela quer aplausos? Pregar pela vacina, para as pessoas ficarem em casa é pregar em causa própria. A questão é outra, Juliana. No fim do dia você acha que dá para ir levando com Bolsonaro até 2022? Você acha que o impeachment construiu alguma coisa? Em quem você votou em 2018? Votaria diferente? Você está mais feliz com o Brasil que temos hoje do que com o que tínhamos entre 98 a 2016 quando você ascendeu de figurante para estrela da Globo?
Não tem “veja bem” nessas questões. Ou você responde “sim” e aí você assumiu um lado mesmo que você tenha vergonha dele ou você responde “não” e aí te cabe fazer a melhor escolha possível.
“Ah e se eu não quiser escolher nenhum dos lados?” Então tua resposta é “sim”, a favor de quem está no poder. Lamento, mas escolher quando subir e descer no muro não te dá o direito de decidir quando vai ter que explicar suas posições como pessoa pública. Se Juliana, Palmeiras, Agatha Moreira e todos esses artistas participassem ou se interessassem pelo debate político, o Brasil estaria melhor. Talvez houvesse mais estresse em suas vidas pessoais, mas isso faz parte da construção de um país melhor. Pergunte a Jane Fonda.
Estes artistas pertencem a uma classe que se beneficiou de todas as leis de retomada cultural construídas nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma. Mas não querem participar de nenhuma discussão em prol de um Brasil mais justo, criticam tudo (“não me sinto representada por nenhum dos lados”) e ainda querem que a gente bata palminha, respeite a posição e não critique enquanto meio milhão de brasileiros morre e o setor cultural inteiro é atacado porque cruzaram os braços ou votaram 17?
Quem é amigo pode ir lá tentar explicar como Juliana está mais errada do que nunca. Eu acho que ela sabe exatamente o que está defendendo e se fala em mentiras como “delírios comunistas” é porque sabe para que serve esse tipo de fake news. Se são desculpas republicanas para se convencer é um problema dela com sua terapia. Sua biografia terá essa marca e ela será cobrada por isto. Queira ou não.